Assisti à matéria do Fantástico de 19 de julho de 2015, e vou começar falando que os dados estão corretos. A forma que foi apresentada é que é o problema. Vamos analisar um pouco a matéria.
O título da matéria já apresenta termos fortes: prostituição e pedofilia. Fala de cartões clonados também e, quem já passou por isso, sabe que é uma dor de cabeça. Eu já tive meu cartão clonado, e realmente é algo muito ruim para o lado lesado.
O início da matéria começa falando dos jogos como se fala sobre outras coisas. Se trocar “jogos online” por “bebida”, “balada”, “trote telefônico” a história permanece a mesma: começa inofensivo, mas tem gente que não consegue parar.
Olhem agora: tem gente. Esta é a chave da história. Se for analisar os dados do final da matéria (e notem que eles NÃO citaram a quantidade de pessoas jogando!), fica um pouco claro que o número de pessoas que passa por problemas (de vício à conduta imprópria) é pequeno. O jogo em questão, por exemplo, tem milhares de pessoas. E ainda assim, não acharam nem dez pessoas para entrevistar, mesmo garantindo a privacidade. É uma porcentagem muito pequena que passa por problemas, mesmo se resolvemos decuplicar o número de pessoas com problemas, ou seja, se eu extrapolar e falar que existem 50 pessoas com problemas, ainda não é significativo para milhares de pessoas. E isso estamos falando de apenas um jogo. E nem o mais famoso deles. Por que empresas como a Riot, Level Up! Games ou a Blizzard não apareceram na matéria? Não é por temer o Fantástico, mas por saber que o que iriam apresentar é tendencioso, se não falacioso.
Existe este problema? Sim, existe. A culpa é do jogo? Não. O jogo online é a ferramenta que a pessoa que está com problemas usa para “resolver” seu problema. Se não fosse o jogo online, seria uma rede social, bebidas ou qualquer coisa coisa. Não adianta tirar o jogo de quem está com problemas, pois essa pessoa vai procurar outra saída. Precisa resolver o problema da pessoa. Jogar a culpa do comportamento de alguém em um único dos aspectos da vida deste alguém é minimizar o problema e ignorar completamente a pessoa e sua causa.
Algumas informações sobre mim, para quem estiver com a pergunta “quem é este cara, ele não sabe o que está falando”.
- sou pai
- sou jogador de jogos online há, pelo menos, 10 anos
- trabalho no mercado de jogos há 10 anos
- jogo jogos eletrônicos há quase 30 anos, com a presença (e eventual participação) do meu pai
A questão não é tirar o jogo do seu filho: é tirar seu filho do problema que o aflige. Seja um pai (ou uma mãe) para seu filho, não um inimigo dele. E, acima de tudo, desconfie das matérias que ler ou assistir: a intenção de quem está apresentando os fatos é sempre subjetiva.
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